segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DESABAFO DE UM NORDESTINO!


Itabuna, 27 de agosto de 2011.

Excelentíssima Senhora Presidenta da República,

Morar na região Nordeste é entender o que significa ser miserável. É enxergar a falta de dignidade na vida de milhões de nordestinos vivendo em condições precárias esperando a assistência de programas fragmentados e de aplicação duvidosa. A fome que sinto e a sede que me paralisa me mostram que a miséria do meu povo é apenas mais uma fonte de discursos vazios para obtenção de votos.
A senhora há de convir que é muito fácil culpar as questões ambientais pelos problemas que assolam esse povo forte e batalhador. Entretanto, não é difícil perceber que a seca é mais um fator socioeconômico que meteorológico. Os inúmeros programas do seu antecessor foram marcados pela forte vontade política. Mas só isso não resolve o nosso caso. “Quem tem fome, tem pressa” – Betinho sintetizou o nosso sentimento de desconfiança em relação a essas demoradas políticas.
É necessário, senhora Presidenta, uma alteração estrutural profunda na organização social e na mentalidade da elite nacional. Afinal, apenas um país com uma concentração de renda tão absurda poderia apresentar níveis tão paradoxais: somos um país rico e em ascensão, mas 16,27 milhões de brasileiros vivem abaixo do nível de pobreza – 2,4 milhões deles só na Bahia. Esses dados mostram porque tantos nordestinos tentam a sorte no sul, iludidos com perspectivas frias de melhoria.
Erradicar o problema é uma ilusão, mas criar formas eficientes de atenuá-lo seria de grande valia para nós. Portanto, senhora, soluções não faltam: uma maior articulação e acompanhamento eficaz na aplicação de políticas assistencialistas; a tão esperada reforma agrária; a geração de políticas de emprego e renda... Enquanto aguardamos as decisões de pessoas importantes como a senhora, continuamos nossas vidas secas sem perder a fé num amanhã menos duro.

Atenciosamente,

Nordestino faminto.

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